Seguiu pelo corredor com as mãos no ar, o peito arfante. Esbarrou na porta do quarto de Sara, sem forças para entrar, com medo da morte. Esteve algum tempo inerte, encostada no umbral, repetindo baixo, num tremor nervoso, matei rainha filha... matei minha filha... matei minha filha... Espreitou de longe, por fim; criadas rodeavam a cama de Sara. Lembrou-se de repente de ir buscar Luciano; Sara amava-o, só ele a poderia salvar!
Seria o amor o Cristo que ressuscitasse aquele corpo exânime e que fizesse erguerem-se, na miraculosa paz das almas satisfeitas, aquelas pálpebras imóveis e aquela pálida cabeça de moribunda! Só a amor teria o poder mágico de acordar aquela carne que nem os seus beijos, nem as suas lágrimas faziam estremecer?
Ernestina saiu para a rua e correu pelo morro abaixo, num atordoamento. Ia para buscar Luciano, o seu amado, o seu sonhado esposo, e dizer-lhe: confesse o seu amor à minha filha e salve-a!
O caminho estava negro, a viúva sentia o vestido embaraçar-se-lhe debaixo dos pés; tropeçava a miúdo, caiu uma vez; ergueu-se; e foi seguindo.
Não levava nem chapéu nem xale, e o vestido leve, caseiro, mal a resguardava da chuva que principiava a cair.
Uma patrulha cortou-lhe o caminho; ela disse-lhe, entre soluços: - Vou buscar Luciano,