de vez em quando, e aqueles soluços revolviam-lhe n'alma toda a sua ternura. Atrás dele, o médico escrevia; mas no seu desespero Luciano nem reparava nele; todo o seu sentido estava nessa cama estreita, branca, revolta, onde, como uma estátua, pesada e rígida, Sara parecia dormir! Morta não estava! Ele via-lhe o peito abaixar-se e erguer-se numa respiração custosa, como se aquele resto de vida lhe pesasse sobre o coração.
A doente tinha as feições alteradas, o rosto lívido, manchado de escuro, os lábios entumecidos e as pálpebras roxas.
Luciano quis beijá-la na testa, o padre Anselmo desviou-o com austeridade.
A pena do médico rangia no papel, e as criadas, agrupadas aos pés da cama, esperavam as ordens, olhando com tristeza para a moça. Benedita chorava sempre alto, e o padre compadecido, disse-lhe com voz doce e triste:
- Espere! Ela talvez não morra... a misericórdia de Deus é infinita!
O médico postou-se novamente à cabeceira da doente.
Luciano, vendo-o, contou-lhe o que ouvira de Ernestina, baixo e precipitadamente. Que seria aquilo, um envenenamento?!
- Não!... houve um engano de remédio, nada mais. Percebi, logo que entrei, do que se tratava, vendo à cabeceira da doente o frasco que