Pouco a pouco a viúva foi percebendo a verdade; a filha não morreria... mas estava idiota! Ao redor dela, todos calados esperavam uma cena em que a dor explodisse em gritos, ou a abatesse num desmaio. Nada! A viúva achava, apesar de tudo, uma consolação - a filha vivia e, idiota embora, respirava, deixava-se beijar! Estava nisso o seu resto de ventura materna!
De joelhos, perto da cama, esteve longo tempo a olhar, a olhar... Ergueu-se com um suspiro e deixou que D. Candinha lhe vestisse um peignoir de lã; atou ela mesma maquinalmente os cordões da cinta sem desviar os olhos da filha.
Só depois de algum tempo foi que ela chorou, muito baixinho, embebendo as lágrimas no lenço.
Luciano tinha-se afastado do quarto e passeava no jardim, fugindo aos olhos de todos e à bulha atormentadora das vozes. Subia e descia pelas ruas vagarosamente, parando às vezes para afastar com o pé uma folha seca do caminho, ou para esmagar entre as unhas as pétalas leitosas das flores das laranjeiras. Os galhos carregados das árvores desciam muito e as formiguinhas passeavam pelos troncos apressadamente, carregando folhinhas e salpicando de preto a brancura das folhas.
Luciano contemplava aquilo tudo sem pensar