de ter saído; não queria pensar nele, nem amar ninguém. Aquilo era uma loucura que havia de passar. Desejava somente vê-lo mais uma vez, só uma vez... depois afastá-lo-ia da idéia. Ela não se pertencia, era da filha; tudo que havia ali devia ser da filha... tinha sido ganho pelo pai, com esforço, por amor dela...
Logo depois do jantar, Ernestina recolheu-se ao quarto, muito fatigada e nervosa. Parecia-lhe um sonho aquilo! Principiava a considerar ignominioso todo o tempo que vivera ao lado do marido, na pacatez burguesa e honesta do seu lar. Lembrando-se dos beijos que o esposo lhe dera, esfregava com força os lábios e as faces, como se os sentisse ainda e os quisesse arrancar da pele. Chegou a lamentar o nascimento da filha, mas desse sentimento arrependeu-se depressa; adorava Sara, e queria-a sempre bem pertinho de si, conquanto desse razão a Luciano; afinal, o ciúme dele lisonjeava-a... Se Luciano aborrecia Sara era porque a amava, a ela, e a pequena era a recordação viva e inextinguível do pai...
Andou pelo quarto, febrilmente, até o anoitecer.
Volta e meia esbarrava com algum objeto que pertencera ao marido e desviava o olhar, indignada de o ver ainda ali, na intimidade do seu quarto. Ernestina encostou-se por fim à janela: a tarde morria rapidamente; toda a terra