Para aquela lição tão intempestiva, já se havia formado um grupo de temperamentos bélicos. Um rapazola falou.

– E a encruzilhada?

– É verdade, não disseste nada de encruzilhada?

E a discussão cresceu. Parecia que iam brigar.

Fora, a chuva jorrava torrencial. Um relógio pôs-se a bater preguiçosamente meia-noite. As mulatinhas cantavam tristes:

Meu rei de Ouros quem te matou?
Foi um pobre caçadô.

Mas Dudu saltou para o meio da sala. Houve um choque de palmas. E diante do quarto, onde se confundia o mundo em adoração a Deus, o negro cantou, acompanhado pelo coro:

Já deu meia-noite
O sol está pendente
Um quilo de carne
Para tanta gente!

Oh! suave ironia dos malandros! Na baiúca havia alegria, parati, álcool, fantasia, talvez o amor nascido de todas aquelas danças e do insuportável cheiro do éter floral.

Não havia, porém, com que comer. Diante de Jesus, que só lhes dera o dia de amanhã, a queixa se desfazia num quase riso. Um quilo de carne para tanta gente!

Talvez nem isso! Saí, deixei o último presepe.