A cidade e as serras
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do Silverio... Nem imagino onde param os ossos... Que lugubre historia!

Depois chegou a hora das luzes e do jantar. Eu encommendára pelo Grillo ao nosso magistral cozinheiro uma larga travessa d’arroz dôce, com as iniciaes de Jacintho e a data ditosa em canella, á moda amavel da nossa meiga terra. E o meu Principe á meza, percorrendo a lamina de marfim onde no 202 se inscreviam os pratos a lapis vermelho, louvou com fervôr a ideia patriarchal:

— Arrôz dôce! Está escripto com dois ss, mas não tem dúvida... Excellente lembrança! Ha que tempos não cômo arrôz dôce!... Desde a morte da avó.

Mas quando o arrôz dôce appareceu triumphalmente, que vexâme! Era um prato monumental, de grande arte! O arrôz, massiço, moldado em fórma de pyramide do Egypto, emergia d’uma calda de cereja, e desapparecia sob os fructos seccos que o revestiam até ao cimo, onde se equilibrava uma corôa de Conde feita de chocolate e gomos de tangerina gelada! E as iniciaes, a data, tão lindas e graves na canella ingenua, vinham traçadas nas bordas da travessa com violetas pralinadas! Repellimos, n’um mudo horror, o prato acanalhado. E Jacintho, erguendo o copo de Champagne, murmurou como n’um funeral pagão:.