A CIDADE E AS SERRAS

divertido do seu tédio. Jacinto encontrara enfim na vida uma ocupação grata — maldizer a Vida! E para que a pudesse maldizer em todas as suas formas, as mais ricas, as mais intelectuais, as mais puras, sobrecarregou a sua vida própria de novo luxo, de interesses novos de espirito, e até de fervores humanitários, e até de curiosidades supernaturais.

O 202, nesse Inverno, refulgiu de magnificência. Foi então que ele iniciou em Paris, repetindo Heliogábalo, os Festins de Cor contados na História Augusta: e ofereceu às suas amigas esse sublime jantar cor-de-rosa, em que tudo era róseo, as paredes, os móveis, as luzes, as louças, os cristais, os gelados, os Champanhes, e até (por uma invenção da Alta Cozinha) os peixes, e as carnes, e os legumes, que os escudeiros serviam, empoados de pó rosado, com librés da cor da rosa, enquanto do tecto, dum velário de seda rosada, caíam pétalas frescas de rosas... A Cidade, deslumbrada, clamou: — «Bravo, Jacinto!» E o meu Príncipe, ao rematar a festa fulgurante, plantou diante de mim as mãos nas ilhargas e gritou triunfalmente: — «Hem? Que maçada!...»

Depois foi o Humanitarismo: e fundou um Hospício no campo, entre jardins, para velhinhos desamparados, outro para crianças débeis à beira do Mediterrâneo. Depois com o major Dorchas, e Mayolle, e o Hindu de Mayolle penetrou no Teosofismo: e montou tremendas experiências para verificar a misteriosa exteriorização da motilidade. Depois, desesperadamente, ligou o 202 com os fios telegráficos do Times, para que no

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