A CIDADE E AS SERRAS

— Vamos ao Bosque, por despedida?

Fomos — à grande despedida! E que encanto! Até nas almofadas e molas da vitória senti logo uma elasticidade mais embaladora. Depois, pela Avenida do Bosque, quase me pesava não ficar sempiternamente rolando, ao trote rimado das éguas perfeitas, no rebrilho rico de metais e vernizes, sobre aquele macadame mais alisado que mármore, entre tão bem regadas flores e relvas de tão tentadora frescura, cruzando uma Humanidade fina, de elegância bem acabada, que almoçara o seu chocolate em porcelanas de Sèvres ou de Minton, saíra de entre sedas e tapetes de três mil francos, e respirava a beleza de Abril com vagar, requinte e pensamentos ligeiros! O Bosque resplandecia numa harmonia de verde, azul e ouro. Nenhuma cova ou terra solta desalisava as polidas áleas que a Arte traçou e enroscou na espessura — nenhum esgalho desgrenhado desmanchava as ondulações macias da folhagem que o Estado escova e lava. O piar das aves apenas se elevava para espalhar uma graça leve de vida alada; — e mais natural parecia, entre o arvoredo sociável, o ranger das selas novas, onde pousavam, com balanço esbelto, as amazonas espartilhadas pelo grande Redfern. Em frente ao Pavilhão de Armenonville cruzámos Madame de Trèves, que nos envolveu a ambos na carícia do seu sorriso, mais avivado àquela hora pelo vermelhão ainda húmido. Logo atrás a barba talmúdica de Efraim negrejou, fresca também da brilhantina da manhã, no alto dum faéton tilitante. Outros amigos de Jacinto circulavam nas Acácias — e as mãos que lhe acenavam, lentas e afáveis,

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