ela a borrasca de vento e água, uma inquietação mais aterrada se apoderava do meu Príncipe, assim desgarrado da Civilização, arrastado para a Natureza que já o cercava de brutalidade agreste. Não cessou então de me interrogar sobre Tormes:
— As noites são horríveis, hem, Zé Fernandes? Tudo negro, enorme solidão... E o médico?... Há médico?
Subitamente o comboio estacou. Mais grossa e ruidosa a chuva fustigou as vidraças. Era um descampado, todo em treva, onde rolava e lufava um grande vento solto. A máquina apitava, com angústia. Uma lanterna lampejou, correndo. Jacinto batia o pé: — «É medonho! é medonho!...» Entreabri a portinhola. Da claridade incerta das vidraças surdiam cabeças esticadas, assustadas. — «Que hay? Que hay?» — A uma rajada, que me alagou, recuei: — e esperámos durante lentos, calados minutos, esfregando desesperadamente os vidros embaciados para sondar a escuridão. De repente o comboio recomeçou a rolar, muito sereno.
Em breve apareceram as luzinhas mortas duma estação abarracada. Um condutor, com o casacão de oleado todo a escorrer, trepou ao salão: — e por ele soubemos, enquanto carimbava apressadamente os bilhetes, que o trem, muito atrasado, talvez não alcançasse em Medina o comboio de Salamanca!
— Mas então?...
O casaco de oleado escorregara pela portinhola, fundido na noite, deixando um cheiro de humidade e azeite. E nós encetámos um novo