A CIDADE E AS SERRAS

— Oh belo Pimentão!...

Apresentei o senhor de Tormes. E imediatamente:

— Ouve lá, Pimentinha... Não está aí o Silvério?

— Não... O Silvério há quase dois meses que partiu para Castelo de Vide, ver a mãe que apanhou uma cornada dum boi!

Atirei a Jacinto um olhar inquieto:

— Ora essa! E o Melchior, o caseiro?... Pois não estão aí os cavalos para subirmos à quinta?

O digno chefe ergueu com surpresa as sobrancelhas cor de milho:

— Não!... Nem Melchior, nem cavalos... O Melchior... Há que tempos eu não vejo o Melchior!

O carregador badalou lentamente a sineta para o comboio rolar. Então, não avistando em torno, na lisa e despovoada Estação, nem criados nem malas, o meu Príncipe e eu lançámos o mesmo grito de angústia:

— E o Grilo? as bagagens?...

Corremos pela beira do comboio, berrando com desespero:

— Grilo!... Oh Grilo!... Anatole!... Oh Grilo!

Na esperança que ele e o Anatole viessem mortalmente adormecidos, trepávamos aos estribos, atirando a cabeça para dentro dos compartimentos, espavorindo a gente quieta com o mesmo berro que retumbava: — «Grilo, estás aí, Grilo?» — Já duma terceira classe, onde uma viola repenicava, um jocoso gania, troçando: — «Não há por aí um grilo? Andam por aí uns senhores a pedir um grilo!» — E nem Anatole, nem Grilo!

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