A CIDADE E AS SERRAS

e da sua Roda, comprou a um sacristão espanhol um Décimo de Lotaria, logo a Fortuna, ligeira e ridente sobre a sua Roda, correu num fulgor, para lhe trazer quatrocentas mil pesetas. E no céu as Nuvens, pejadas e lentas, se avistavam Jacinto sem guarda-chuva, retinham com reverência as suas águas até que ele passasse... Ah! o âmbar e o funcho da sr.a D. Angelina tinham escorraçado do seu destino, bem triunfalmente e para sempre, a Sorte-Ruim! A amoravel avó (que eu conheci obesa, com barba) costumava citar um soneto natalício do desembargador Nunes Velho contendo um verso de boa lição:


Sabei, senhora, que esta Vida é um rio...


Pois um rio de Verão, manso, translúcido, harmoniosamente estendido sobre uma areia macia e alva, por entre arvoredos fragrantes e ditosas aldeias, não ofereceria àquele que o descesse num barco de cedro, bem toldado e bem almofadado, com frutas e Champanhe a refrescar em gelo, um Anjo governando ao leme, outros Anjos puxando à sirga, mais segurança e doçura do que a Vida oferecia ao meu amigo Jacinto.

Por isso nós lhe chamávamos «o Príncipe da Grã-Ventura» !


Jacinto e eu, José Fernandes, ambos nos encontrámos e acamaradámos em Paris, nas Escolas do Bairro Latino — para onde me mandara meu bom tio Afonso Fernandes Lorena de Noronha e Sande, quando aqueles malvados me riscaram

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