vela de sebo que se derretia no alqueire, com os pés encafuados nos socos, perdido dentro das ásperas pregas e dos rijos folhos da camisa serrana, percorrendo num pedaço velho de Gazeta, pensativamente, as partidas dos Paquetes — não pode saber o que é uma intensa e verídica imagem do Desalento.
Recolhido à minha alcova espartana, desabotoava o colete, num delicioso cansaço, quando o meu Príncipe ainda me reclamou:
— Zé Fernandes...
— Diz.
— Manda também no saco um abotoador de botas. Estirado comodamente na rija enxerga murmurei, como sempre murmuro ao penetrar no Sono, que é um primo da Morte: «Deus seja louvado!» Depois tomei a metade do Jornal do Comércio que me pertencia.
— Zé Fernandes...
— Que é? — Também podias meter no saco pós dos dentes... E uma lima das unhas... E um romance!
Já a meia Gazeta me escapava das mãos dor- mentes. Mas da sua alcova, depois de soprar a vela, Jacinto murmurou entre um bocejo:
— Zé Fernandes...
— Hem?
— Escreve para Lisboa, para o Hotel Bragança... Os lençóis ao menos são frescos, cheiram bem, a sadio!