depois de tantos anos de cova, de cova mole em que jazera, enfaixado com uma múmia nas faixas do Pessimismo!
E o que esse Príncipe, nesta tarde, me esfalfou! Farejava com uma curiosidade insaciável, todos os recantos da serra! Galgava os cabeços correndo, como na esperança de descobrir lá do alto os esplendores nunca contemplados dum Mundo inédito. E o seu tormento era não conhecer os nomes das árvores, da mais rasteira planta brotando das fendas dum socalco... Constantemente me folheava como a um Dicionário Botânico.
— Fiz toda a sorte de cursos, passei pelos professores mais ilustres da Europa, tenho trinta mil volumes, e não sei se aquele senhor além é um amieiro ou um sobreiro...
— É um azinheiro, Jacinto.
Já a tarde caía quando recolhemos muito lentamente. E toda essa adorável paz do Céu, realmente celestial, e dos campos, onde cada folhinha conservava uma quietação contemplativa, na luz docemente desmaiada, pousando sobre as coisas com um liso e leve afago, penetrava tão profundamente Jacinto, que eu o senti, no silêncio em que caíramos, suspirar de puro alívio.
Depois, muito gravemente:
— Tu dizes que na natureza não há pensamento...
— Outra vez! Olha que maçada! Eu...
— Mas é por estar nela suprimido o pensamento que lhe está poupado o sofrimento! Nós, desgraçados, não podemos suprimir o pensa- mento, mas certamente o podemos disciplinar e impedir que ele se estonteie e se esfalfe, como