A CIDADE E AS SERRAS

desespero todo o arvoredo, tornara a serra negra, bravamente agreste, hostil, inabitável.

Quando enfim, debaixo do vasto guarda-chuva com que Silvério nos esperava à beira do campo, corremos para o alpendre, nos refugiámos naquele abrigo inesperado, a escorrer, a arquejar, o meu Príncipe, enxugando a face, enxugando o pescoço, murmurou, desfalecido:

— Apre! que ferocidade! Parecia espantado daquela brusca, violenta cólera duma serra tão amável e acolhedora, que em dois meses, inalteradamente, só lhe oferecera doçura e sombra, e suaves céus, e quietas ramagens, e murmúrios discretos de ribeirinhos mansos.

— Santo Deus ! Vêm muitas vezes assim, estas borrascas?

Imediatamente o Silvério aterrou o meu Príncipe:

— Isto agora são brincadeiras de Verão, meu senhor! Mas há-de V. Ex.a ver no Inverno, se V. Ex.a se aguentar por cá! Então é cada temporal, que até parece que os montes estremecem!

E contou como fora também apanhado, quando ia para a Corujeira. Felizmente, logo de manhã, quando sentiu o ar carrancudo e as folhinhas dos choupos a tremer, se acautelara com o chapéu de chuva e calçara as suas grandes botas.

— Ainda estive para me abrigar em casa do Esgueira, que é um caseiro de cá. Aquela casa, ali abaixo, onde está a figueira... Mas a mulher tem estado doente, já há dias... E como pode ser obra que se pegue, bexigas ou coisa que o

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