A CIDADE E AS SERRAS

nuvens já se ia enrolando sob a lenta varredela do vento, que as levava, despejadas e rotas, para um canto escuso do céu.

Então recolhemos lentamente para casa, por uma vereda íngreme, que ensinara o Silvério, e onde um leve enxurro vinha ainda, saltando e chalrando. De cada ramo tocado, rechovia uma chuva leve. Toda a verdura, que bebera largamente, reluzia consolada.

Bruscamente, ao sairmos da vereda para um caminho mais largo, entre um socalco e um renque de vinha, Jacinto parou, tirando lentamente a cigarreira:

— Pois, Silvério, eu não quero mais estas horríveis misérias na quinta.

O Procurador deu um jeito aos ombros, com um vago eh! eh! de obediência e dúvida.

— Antes de tudo — continuava Jacinto — mande já hoje chamar esse Dr. Avelino para aquela pobre mulher... E os remédios que os vão buscar logo a Guiães. E recomendação ao médico para voltar amanhã, e em cada dia; até que ela melhore... Escute! E quero, Silvério, que lhe leve dinheiro, para os caldos, para a dieta, uns dez ou quinze mil-réis... Bastará?

O Procurador não conteve um riso respeitoso. Quinze mil-réis! Uns tostões bastavam... Nem era bom acostumar assim, a tanta franqueza, aquela gente. Depois todos queriam, todos pedinchavam...

— Mas é que todos hão-de ter — disse Jacinto simplesmente.

— V. ex.a manda! — murmurou o Silvério.

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