profundas, com as mãos cruzadas sob as abas da longa sobrecasaca azul.
Eu então, vigilante, lancei o Dr. Alípio:
— O nosso Doutor, meu caro Jacinto, é o mais poderoso influente de todo o distrito.
O Doutor curvou a cabeça bem feita, com um belo cabelo preto, admiravelmente alisado e lustroso. Mas a tia Vicência, que se erguera do sofá, chamava o meu Príncipe, porque o Manuel anunciara o jantar, mudamente, mostrando apenas, à porta da sala, a sua corpulenta pessoa, — inteiriçado e vermelho.
À mesa, onde os pudins, as travessas de doce de ovos, os antigos vinhos da Madeira e do Porto, nas suas pesadas garrafas de cristal lapidado, fundiam com felicidade os seus tons ricos e quentes, Jacinto ficou entre a tia Vicência e uma das Rojões, a Luisinha, sua afilhada, que, por costume velho, quando jantava em Guiães, sempre se colocava à sombra da sua boa madrinha. E a sopa, que era de galinha com macarrão, foi comida num tão largo e pesado silêncio que eu, na ânsia de o quebrar, exclamei, ao acaso, sem pensar que me achava em Guiães depois de tanto tempo e em minha própria casa:
— Deliciosa, esta sopa!
Jacinto ecoou:
— Divina ! !
Mas como todos os convidados certamente estranharam este meu brado, e a excessiva admiração de Jacinto, o silêncio, carregado de cerimónia, mais se carregou de embaraço. Felizmente a tia Vicência, com aquele seu bom sorriso, observou que Jacinto parecia gostar da comida portuguesa...