A CIDADE E AS SERRAS

— Acende o lampião, Pedro! Sempre ajuda a luz das lanternas.

A criada Quitéria chegava à porta com os braços carregados de xales, de mantilhas de renda. Como uma das Albergarias ia no assento de diante, na vitória, eu corri a buscar o meu casaco de borracha, para ela se abrigar, se a chuva viesse. E só o D. Teotónio, que tinha até casa apenas meia légua de estrada boa, se não apressava, filado outra vez no meu Príncipe, que levava para os cantos mais solitários, em conversas profundas, que o seu dedo solene, espetado, sublinhava gravemente. Mas a tia Albergaria gritou que já chovia; — e então foi uma pressa das senhoras, que beijocavam vivamente a tia Vicência, enquanto os homens, na antecâmara, enfiavam açodadamente os paletós.

Jacinto e eu descemos ao pátio para acompanhar aquela debandada, — e uma a uma, a traquitana do Dr. Alípio, a vitória das Albergarias, a velha e imensa caleche dos Velosos, rolaram sob a noite, entre os nossos desejos de boa jornada. Por fim D. Teotónio calçou as luvas pretas e entrou para a sua caleche, dizendo a Jacinto:

— Pois, primo e amigo, Deus permita que, do nosso encontro, e do mais que se passar, algum bem resulte a esta terra!

Subindo a escada, o meu Príncipe desabafou:

— Este Teotónio é extraordinário! Sabes o que descobri por fim?... Que me toma por um miguelista, e imagina que eu vim para Tormes preparar a restauração de D. Miguel?!

— E tu?

— Eu fiquei tão espantado, que nem o desiludi!

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