A CIDADE E AS SERRAS

— Continua também. Sempre com as feminices a três francos e cinquenta... Duquesas em camisa, almas nuas... Coisas que se vendem bem!

Mas quando eu, encantado, ia indagar de Todelle, do Grão-Duque, o comboio entrou na estação de Biarriz : — e rapidamente, apanhando o paletó e os jornais, depois de me apertar a mão, o delicioso Marizac saltou pela portinhola, que o seu criado abrira, gritando:

— Até Paris!... Sempre rue Cambori.

Então, no compartimento solitário, bocejei, com uma estranha sensação de monotonia, de saciedade, como cercado já de gentes muito vistas, murmurando histórias muito sabidas, e coisas muito ditas, através de sorrisos estafados. Dos dois lados do comboio era a longa planície monótona, sem variedade, muito miudadamente cultivada, muito miudadamente retalhada, dum verde de reseda, verde-cinzento e apagado, onde nenhum lampejo, nem tom alegre de flor, nem acidente do solo, desmanchavam a mediocridade discreta e ordeira. Pálidos choupos, em renques pautados e finos, bordavam canaizinhos muito direitos e claros. Os casais, todos da mesma cor pardacenta, mal se elevavam do solo, mal se destacavam da verdura desbotada, como encolhidos na sua mediocridade e cautela. E o céu, por cima, liso, sem uma nuvem, com um sol descorado, parecia um vasto espelho muito lavado a grande água, até que de todo se lhe safasse o esmalte e o brilho. Adormeci numa doce insipidez.

Com que linda manhã de Maio entrei em Paris! Tão fresca e fina, e já macia, que, apesar de cansado, mergulhei com repugnância no profundo,

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