A CIDADE E AS SERRAS

ao trabalho! Assim... E apontou. Este arrancava as penas velhas; o outro numerava rapidamente as páginas dum manuscrito ; aqueloutro, além, raspava emendas... E ainda os havia para colar estampilhas, imprimir datas, derreter lacres, cintar documentos...

— Mas com efeito, acrescentou, é uma seca... Com as molas, com os bicos, às vezes magoam, ferem... Já me sucedeu inutilizar cartas por as ter sujado com dedadas de sangue. É uma maçada!

Então, como o meu amigo espreitara novamente o relógio monumental, não lhe quis retardar a consolação da duche e da malva-rosa.

— Bem, Jacinto, já te revi, já me contentei... Agora até amanhã, com as malas.

— Que diabo, Zé Fernandes, espera um momento... Vamos pela sala de jantar. Talvez te tentes !

E, através da Biblioteca, penetrámos na sala de jantar — que me encantou pelo seu luxo sereno e fresco. Uma madeira branca, lacada, mais lustrosa e macia que cetim, revestia as paredes, encaixilhando medalhões de damasco cor de morango, de morango muito maduro e esmagado; os aparadores, discretamente lavrados em florões e rocalhas, resplandeciam com a mesma laca nevada; e damascos amorangados estofavam também as cadeiras, brancas, muito amplas, feitas para a lentidão de gulas delicadas, de gulas intelectuais.

— Viva o meu Príncipe! Sim senhor... Eis aqui um comedouro muito compreensível e muito repousante, Jacinto!

— Então janta, homem !

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