A CIDADE E AS SERRAS

presidente do Clube da Espada e Alvo; comanditario do jornal O Boulevard; director da Companhia dos Telefones de Constantinopla; sócio dos Bazares Unidos da Arte Espiritualista; membro do Comité de Iniciação das Religiões Esotéricas, etc). Nenhuma destas ocupações parecia porém aprazível ao meu amigo — porque, apesar da mansidão e harmonia dos seus modos, frequentemente arremessava para o tapete, numa rebelião de homem livre, aquela Agenda que o escravizava. E numa dessas manhãs (de vento e neve), apanhando eu o livro opressivo, encadernado em pelica, de um carinhoso tom de rosa murcha — descobri que o meu Jacinto devia depois do almoço fazer uma visita na rua da Universidade, outra no Parque Monceau, outra entre os arvoredos remotos da Muette; assistir por fidelidade a uma votação no Clube; acompanhar Madame de Oriol a uma exposição de leques; escolher um presente de noivado para a sobrinha dos Trèves; comparecer no funeral do velho conde de Malville; presidir um tribunal de honra numa questão de roubalheira, entre cavalheiros, ao ecarté... E ainda se acavalavam outras indicações, escrevinhadas por Jacinto a lápis : — «Carroceiro — Five-o'clok dos Efrains — A pequena das Variedades — Levar a nota ao jornal...» Considerei o meu Príncipe. Estirado no divã, de olhos misèrrimamente cerrados, bocejava, num bocejo imenso e mudo.

Mas os afazeres de Jacinto começavam logo no 202, cedo, depois do banho. Desde as oito horas a campainha do telefone repicava por ele, com impaciência, quase com cólera, como por

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