A CIDADE E AS SERRAS

a encaracolada barba hebraica do banqueiro Efraim; e o longo nariz patrício de Madame de Trèves abrigando um sorriso perene; e as bochechas flácidas do poeta neoplatónico Dornan, sempre espapado no fundo de fiacres; e os longos bandós pré-rafaelitas e negros de Madame Verghane; e o monóculo defumado do director do Boulevard; e o bigodinho vencedor do duque Marizac, reinando de cima do seu fáeton de guerra; e ainda outros sorrisos imóveis, e barbichas à Renascença, e pálpebras amortecidas, e olhos farejantes, e peles empoadas de arroz, que eram todas ilustres e da intimidade do meu Príncipe. Mas, do topo da Avenida das Acácias, recomeçávamos a descer, em passo sopeado, esmagando lentamente a areia; na fila vagarosa que subia, calhambeque atrás de landau, vitória atrás de fiacre, fatalmente revíamos o binóculo sombrio do homem do Boulevard, e os bandós furiosamente negros de Madame Verghane, e o ventre espapado do neoplatónico, e a barba talmúdica, e todas aquelas figuras, duma imobilidade de cera, superconhecidas do meu camarada, recruzadas cada tarde através de revividos anos, sempre com os mesmos sorrisos, sob o mesmo pó de arroz, na mesma imobilidade de cera; então Jacinto não se continha, gritava ao cocheiro:

— Para casa, depressa!

E era pela Avenida do Bosque, pelos Campos Elísios, uma fuga ardente das éguas a quem a lentidão sopeada, num roer de freios, entre outras éguas também delas superconhecidas, lançavam numa exasperação comparável à de Jacinto.

Para o sondar eu denegria o Bosque:

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