Além do meu desejo que os contemporâneos venham a amar este espírito que tanto amei— eu obedeço, publicando as cartas de Fradique Mendes, a um intuito de puro e seguro patriotismo.
Uma nação só vive porque pensa. Cogitat ergo est. A Força e a Riqueza, não bastam para provar que uma nação vive duma vida que mereça ser glorificada na História—como rijos músculos num corpo e ouro farto numa bolsa, não bastam para que um homem honre em si a Humanidade. Um reino de África, com guerreiros incontáveis nas suas arintas e incontáveis diamantes nas suas colinas, será sempre uma terra bravia e morta, que, para lucro da Civilização, os Civilizados pisam e retalham tão desassombradamente como se sangra e se corta a rês bruta, para nutrir o animal pensante. E por outro lado se o Egito ou Tunes formassem resplandecentes centros de Ciências, de Literaturas e de Artes, e, através duma serena legião de homens geniais, incessantemente educassem o Mundo—nenhuma nação, mesmo nesta idade de ferro e de força, ousaria ocupar, como um campo marinho e sem dono, esses solos augustos donde se elevasse, para tornar as almas melhores, o enxame sublime das Ideias e das Formas.
Só na verdade o Pensamento e a sua criação suprema, a Ciência, a Literatura, as Artes, dão grandeza aos Povos, atraem para eles universal reverência e carinho, e, formando dentro deles o tesouro de verdades e de belezas que o Mundo precisa,