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de Cenáculo, deslumbrados pelo Lirismo Épico da Légende des Siècles, «o livro que um grande vento nos trouxera de Guernesey» — decidíramos abominar e combater a rijos brados o Lirismo íntimo, que, enclausurado nas duas polegadas do coração, não compreendendo dentre todos os rumores do Universo senão o rumor das saias de Elvira, tornava a Poesia, sobretudo em Portugal, uma monótona e interminável confidência de glórias e martírios de amor. Ora Fradique Mendes pertencia evidentemente aos poetas novos que, seguindo o Mestre sem igual da Légende des Siècles, iam, numa universal simpatia, buscar motivos emocionais fora das limitadas palpitações do coração — à História, à Lenda, aos Costumes, às Religiões, a tudo que através das idades, diversamente e unamente, revela e define o Homem. Mas além disso Fradique Mendes trabalhava um outro filão poético que me seduzia — o da Modernidade, a notação fina e sóbria das graças e dos horrores da Vida, da Vida ambiente e costumada, tal como a podemos testemunhar ou pressentir nas ruas que todos trilhamos, nas moradas vizinhas das nossas, nos humildes destinos deslizando em torno de nós por penumbras humildes.

Esses poemetos das LAPIDÁRIAS desenrolavam, com efeito, temas magnificamente novos. Aí um Santo alegórico, um Solitário do século VI, morria uma tarde sobre as neves da Silésia, assaltado e domado por uma tão inesperada e bestial rebelião da Carne, que, à