, a meditar em silêncio a sua beleza, que me prendia pelo esplendor patente e compreensível, e ainda por não sei quê de fino, de espiritual, de dolente e de meigo que brilhava através e vinha da alma. E tão intensamente me embebi nessa contemplação, que levei comigo a sua imagem, decorada e inteira, sem esquecer um fio dos seus cabelos ou uma ondulação da seda que a cobria, e corri a encerrar-me com ela, alvoroçado, como um artista que nalgum escuro armazém, entre poeira e cacos, descobrisse a Obra sublime dum Mestre perfeito. E, por que o não confessarei? Essa imagem foi para mim, ao princípio, meramente um Quadro, pendurado no fundo da minha alma, que eu a cada doce momento olhava—mas para lhe louvar apenas, com crescente surpresa, os encantos diversos de Linha e de Cor. Era somente uma rara tela, posta em sacrário, imóvel e muda no seu brilho, sem outra influência mais sobre mim que a duma forma muito bela que cativa um gosto muito educado. O meu ser continuava livre, atento às curiosidades que até aí o seduziam, aberto aos sentimentos que até aí o solicitavam;—e só quando sentia a fadiga das coisas imperfeitas ou o desejo novo duma ocupação mais pura, regressava à Imagem que em mim guardava, como um Frade Angélico, no seu claustro, pousando os pincéis ao fim do dia. e ajoelhando ante a Madona a implorar dela repouso e inspiração superior.
Pouco a pouco, porém, tudo o que não foi esta