Todas as sextas-feiras entra no seu banco, que é o London Brazilian. Aos domingos, à noitinha, com recato, visita uma moça gorda e limpa que mora na Rua da Madalena. Cada semestre recebe o juro das suas inscrições.
Toda a sua existência é assim um pautado repouso. Nada o inquieta, nada o apaixona. O Universo, para o comendador Pinho, consta de duas únicas entidades—ele próprio, Pinho, e o Estado que lhe dá os seis por cento: portanto o Universo todo está perfeito, e a vida perfeita, desde que Pinho, graças às águas de Vidago, conserve apetite e saúde, e que o Estado continue a pagar fielmente o cupão. De resto, pouco lhe basta para contentar a porção de Alma e Corpo de que aparentemente se compõe. A necessidade que todo o ser vivo (mesmo as ostras, segundo afirmam os Naturalistas) tem de comunicar com os seus semelhantes por meio de gestos ou sons, é em Pinho pouco exigente. Pelos meados de Abril, sorri e diz, desdobrando o guardanapo—«temos o Verão conosco»: todos concordam e Pinho goza. Por meados de Outubro, corre os dedos pela barba e murmura—«temos conosco o Inverno» se outro hóspede discorda, Pinho emudece, porque teme controvérsias. E esta honesta permutação de ideias lhe basta. À mesa, contanto que lhe sirvam uma sopa suculenta, num prato fundo, que ele possa encher duas vezes—fica consolado e disposto a dar graças a Deus. O Diário de Pernambuco, o Diário de Notícias, alguma comédia