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braços! Por isso mesmo que és a minha Divindade,—para sempre e irremediavelmente estás presa dentro da minha adoração. Os sacerdotes de Cartago acorrentavam às lajes dos Templos, com cadeias de bronze as imagens dos seus Baals. Assim te quero também, acorrentada dentro do templo avaro que te construí, só Divindade minha, sempre no teu altar,—e eu sempre diante dele rojado, recebendo constantemente na alma a tua visitação, abismando-me sem cessar na tua essência, de modo que nem por um momento se descontinue essa fusão inefável, que é para ti um ato de Misericórdia e para mim de Salvação. O que eu desejaria na verdade é que fosses invisível para todos e como não existente—que perpetuamente um estofo informe escondesse o teu corpo, uma rígida mudez ocultasse a tua inteligência. Assim passarias no mundo como uma aparência incompreendida. E só para mim, de dentro do invólucro escuro, se revelaria a tua perfeição rutilante. Vê quanto te amo—que te queria entrouxada num rude, vago vestido de merino, com um ar quedo, inanimado... Perderia assim o triunfal contentamento de ver resplandecer, entre a multidão maravilhada, aquela que em segredo nos ama. Todos murmurariam compassivamente—«Pobre criatura!» E só eu saberia da «pobre criatura», o corpo e a alma adoráveis! Quanto adoráveis! Nem compreendo que, tendo consciência do teu encanto, não estejas de ti namorada como aquele Narciso que treme de frio, coberto de musgo, à