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Não falei da sua inteligência! É prática e metódica—como verifiquei, assistindo a um sermão que ele pregou pela festa de S. Venâncio. Por esse sermão, encomendado, recebia Padre Salgueiro 20$000 réis—e deu, por esse preço, um sermão suculento, documentado, encerrando tudo o que convinha à glorificação de S. Venâncio. Estabeleceu a filiação do Santo; desenrolou todos os seus milagres (que são poucos) com exatidão, exarando as datas, citando as autoridades; narrou com rigor agiológico o seu martírio; enumerou as igrejas que lhe são consagradas, com as épocas da fundação. Enxertou destramente louvores ao Ministro dos Negócios Eclesiásticos. Não esqueceu a Família Real, a quem rendeu preito constitucional. Foi, em suma, um excelente relatório sobre S. Venâncio.

Felicitei nessa noite, com fervor, o reverendo Padre Salgueiro. Ele murmurou, modesto e simples:

—S. Venâncio infelizmente não se presta. Não foi bispo, nunca exerceu cargo público!. . . Em todo o caso, creio que cumpri.

Ouço que vai ser nomeado cônego. Larguissimamente o merece. Jesus não possui melhor amanuense. E nunca realmente compreendi por que razão outro amigo meu, um frade do Varatojo, que, pelo êxtase da sua fé, a profusão da sua caridade, o seu devorador cuidado na pacificação das almas, me faz lembrar os velhos homens evangélicos, chama sempre a este sacerdote tão zeloso, tão pontual, tão proficiente, tão respeitável—«o horrendo Padre Salgueiro!»