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um mármore divino com estremecimentos humanos!»

De manhã apurei requintadamente a minha toilette como se, em vez de Fradique, fosse encontrar Ana de Leon — com quem já nessa madrugada, num sonho repassado de erudição e sensibilidade, eu passeara na Via Sagrada que vai de Atenas a Elêusis, conversando, por entre os lírios que desfolhávamos, sobre o ensino de Platão e a versificação das LAPIDÁRIAS. E às duas horas, dentro de uma tipoia, para que o macadame regado me não maculasse o verniz dos sapatos, parava na Havanesa, pálido, perfumado, comovido, com uma tremenda rosa de chá na lapela, éramos assim em 1867!

Marcos Vidigal já me esperava, impaciente roendo o charuto. Saltou para a tipoia; e batemos através do Loreto, que escaldava ao sol de Agosto.

Na Rua do Alecrim (para combater a pueril emoção que me enleava), perguntei ao meu companheiro quando publicaria Fradique as LAPIDA RIAS. Por entre o barulho das rodas, Vidigal gritou:

— Nunca!

E contou que a publicação daqueles trechos na Revolução de Setembro, quase ocasionara, entre Fradique e ele, «uma pega intelectual». Um dia, depois de almoço, em Sintra, enquanto Fradique fumava o seu chíbuque persa, Vidigal, na sua familiaridade, como patrício e como parente, abrira sobre a mesa uma pasta de veludo negro. Descobrira, surpreendido, largas folhas de versos, numa tinta