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Felizmente Fradique desaparecera por trás dum reposteiro de alcova. Só, limpando o suor, considerando que altos pensadores se exprimem assim, com uma simplicidade rude, —serenei. E a perturbação sucedeu a curiosidade de descobrir em torno, pelo aposento, algum vestígio da originalidade intensa do homem que o habitava. Vi apenas cansadas cadeiras de repes azul-ferrete, em lustre embuçado em tule, e uma consola, de altos pés dourados, entre as duas janelas que respiravam para o rio. Somente, sobre o mármore da consola, e por meio dos livros que atulhavam uma velha mesa de pau preto, pousavam soberbos ramos de flores; e a um canto afofava-se um espaçoso divã, instalado decerto por Fradique com colchões sobrepostos, que dois cobrejões orientais revestiam de cores estridentes. Errava além disso em toda a sala um aroma desconhecido, que também me pareceu oriental, como feito de rosas de Esmirna, mescladas a um fio de canela e manjerona.

Fradique Mendes voltara de dentro, vestido com uma cabaia chinesa! Cabaia de mandarim, de seda verde, bordada a flores de amendoeira — que me maravilhou e me intimidou. Vi então que tinha o cabelo castanho-escuro, fino e levemente ondeado sobre a testa, mais polida e branca que os marfins da Normandia. E os olhos, banhados agora numa luz franca, não apresentavam aquela negrura profunda que eu comparara ao ônix, mas uma cor quente de tabaco escuro da Havana. Acendeu uma cigarette,