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entre todos os homens, avistei eu no terraço, estendido numa comprida cadeira de vime, com as mãos cruzadas por trás da nuca, o Times esquecido sobre os joelhos, embebendo-se todo de calor e de luz? Fradique Mendes.

Galguei os degraus do terraço, lançando o nome de Fradique, por entre um riso de transbordante prazer. Sem desarranjar a sua beatitude, ele descruzou apenas um braço que me estendeu com lentidão. O encanto do seu acolhimento esteve na facilidade com que me reconheceu, sob as minhas lunetas azuis, e o meu vasto chapéu panamá:

— «Então como vai desde o Hotel Central?... Há quanto tempo pelo Cairo?»

Teve ainda outras palavras indolentes e afáveis. Num banco ao seu lado, todo eu sorria, limpando o pó que me empastara a face com uma espessura de máscara. Durante o curto e doce momento que ali conversamos, soube que Fradique chegara havia uma semana de Suez, vindo das margens do Eufrates e da Pérsia, por onde errara, como nos contos de fadas, um ano inteiro e um dia; que tinha um debarieh, com o lindo nome de Rosa das Águas, já tripulado e amarrado à sua espera no cais de Bulak; e que ia nele subir o Nilo até ao Alto Egito, até à Núbia, ainda para além de Ibsambul... Todo o sol do Mar Vermelho e das planícies do Eufrates não lhe tostara a pele láctea. Trazia, exatamente como no Hotel Central, uma larga quinzena