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Tão realmente divina que resolvi logo substituir-me a Fradique no Conto, ser eu o cicerone, e com os Imortais vogar à vela e à sirga sobre o rio da imortalidade! Junto à minha face, não à de Fradique, balbuciaria ela, desfalecendo de paixão entre os granitos sacerdotais de Medinet-Abou, as coisas mais doces da Antologia. Ao menos, em sonho, realizava uma triunfal viagem a Tebas. E faria pensar aos assinantes da Gazeta de Portugal: — «O que ele por lá gozou!»

Fradique sentara-se, recebendo, de Jove e da ninfa que passavam, um sorriso cuja doçura também me envolveu. Vivamente puxei a cadeira para o poeta das LAPIDÁRIAS:

—Quem é este homem? Conheço-lhe a cara...

—Naturalmente, de gravuras... é Gautier!

Gautier! Teófilo Gautier! O grande Teo! O mestre impecável! Outro ardente enlevo da minha mocidade! Não me enganara pois inteiramente. Se não era um Olímpico—era pelo menos o derradeiro Pagão, conservando, nestes tempos de abstrata e cinzenta intelectualidade, a religião verdadeira da Linha e da Cor! E esta intimidade de Fradique com o autor de Mademoiselle de Maupin, com o velho paladino de Hernâni, tornou-me logo mais precioso este compatriota que dava à nossa gasta Pátria um lustre tão original! Para saber se ele preferia anis ou genebra, acariciei-lhe a manga com meiguice. E foi em mim um êxtase ruidoso, diante da sua agudeza, quando ele