é um Adão forte e puro, virgem de literatura, com o crânio limpo de todos os conceitos e todas as noções amontoadas desde Aristóteles, podendo proceder soberbamente a um exame inédito das coisas humanas. Carlos, espírito que destilas espíritos, queres remergulhar nas Origens e vir comigo à inspiradora Hotentócia? Lá, livres e nus, estirados ao sol entre a palmeira e o regato que tu telarmente nos darão o sustento do corpo, com a nossa lança forte cravada na relva, e mulheres ao lado vertendo-nos, num canto doce, a porção de poesia e de sonho que a alma precisa—deixaremos livremente as ilhargas crestadas estalarem-nos de riso, à ideia das grandes Filosofias, e das grandes Morais, e das grandes Economias, e das grandes Críticas, e das grandes Pilhérias que vão por essa Europa, onde densos formigueiros de chapéus altos se atropelam, estonteados pelas superstições da civilização, pela ilusão do ouro, pelo pedantismo das ciências, pelas mistificações dos reformadores, pela escravidão da rotina, e pela estúpida admiração de si mesmos!...»
Assim diz Fradique. Ora este «exame inédito das coisas humanas», só possível, segundo o poeta das LAPIDÁRIAS, ao Adão renovado que regressasse da Patagônia, com o espírito escarolado do pó e do lixo de longos anos de Literatura—tentou-o ele, sem deixar os muros clássicos da Rua de Varennes, com incomparável vigor e sinceridade. E nisto mostrava intrepidez moral. No mundo a que irresistivelmente