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Os mesmos interesses de espírito e «necessidades de certeza» o levaram na América do Sul desde o Amazonas até às areias da Patagônia, o levaram na África Austral desde o Cabo até aos Montes de Zokunga... «Tenho folheado e lido atentamente o Mundo como um livro cheio de ideias. Para ver por fora, por mera festa dos olhos, nunca fui senão a Marrocos».

O que tornava estas viagens tão fecundas como ensino, era a sua rápida e carinhosa simpatia por todos os povos. Nunca visitou países à maneira do detestável touriste francês, para notar de alto e pecamente «os defeitos»—isto é, as divergências desse tipo de civilização mediano e genérico de onde saia e que preferia. Fradique amava logo os costumes, as ideias, os preconceitos dos homens que o cercavam: e, fundindo-se com eles no seu modo de pensar e de sentir, recebia uma lição direta e viva de cada sociedade em que mergulhava. Este eficaz preceito—«em Roma sê romano»—tão fácil e doce de cumprir em Roma, entre as vinhas da colina Célia e as águas sussurrantes da Fonte Paulina, cumpria-o ele gostosamente, trilhando com as alpercatas rotas os desfiladeiros do Himalaia. E estava tão homogeneamente numa cervejaria filosófica da Alemanha, aprofundando o Absoluto entre professores de Tubingen—como numa aringa africana da terra dos Matabeles, comparando os méritos da carabina «Express» e da carabina «Winchester», entre caçadores de elefantes.