— E quem nos affiança isso?... o mais certo é elle entregar-te ao desprezo, logo que saiba que não passas de uma escrava fugida, se despeitado com o logro que levou, não for o primeiro a denunciar-te á policia. No transe em que nos achamos, é de absoluta necessidade enganar a elle e a todos; se revelarmos a quem quer que seja o segredo de nossa posição, estamos perdidos. Toma coragem, e vamos ao baile, minha filha; é um sacrificio cruel, mas passageiro, a que devemos nos sujeitar a bem de nossa segurança. Em breve estaremos longe, e se algum dia souberem quem tu eras, que nos importa? nunca mais nos verão o rosto, nem ouvirão nossos nomes. Tens a consciencia escrupulosa em demasia. Se ignorão quem tu és, a tua companhia em nada os pode infamar. Com isso não fazes mal a ninguem; é uma medida de salvação, que todos te perdoarião.

— Meo pae parece que tem razão; mas não sei por que, repugna-me absolutamente ao coração dar esse passo.

— Mas é preciso dal-o, minha filha, se não queres para nós ambos a desgraça e a morte. Se não formos a esse baile, e desapparecermos de um dia para outro, como nos é forçoso, então as suspeitas que começamos a despertar, tomarão muito maior vulto, e a policia pôr-se-há á nossa pista, e nos perseguirá por toda parte. E’ um sa-