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vamos nós aqui a uma partida de lansquenet, emquanto esses basbaques ali estão a arrastar os pés e a fazer mesuras.

— Justo! — exclamou outro, sentando-se a uma mesa e tomando baralhos. — Já que não temos cousa melhor a fazer, vamos ás cartas. Demais, no baralho é que está a vida. A vista de uma sóta me faz ás vezes estremecer o coração em emoções mais vivas, do que as sentiria Romeo a um olhar de Julieta... Affonso, Alberto, Martinho, andem para cá; vamos ao lansquenet... duas ou tres corridas sómente...

— De boa vontade acceitaria o convite, — respondeo Martinho, — se não andasse occupado com um outro jogo, que de um momento para outro, e sem nada arriscar, pode meter-me na algibeira não menos de cinco contos de réis limpinhos.

— De que diabo de jogo estás ahi a fallar?.. nunca deixarás de ser maluco?.. deixa-te de asneiras, e vamos ao lansquenet.

— Quem tem um jogo seguro como eu tenho, ha-de ir meter-se nos azares do lansquenet, que já me tem engolido bem boas patacas?.. Nem tão tolo serei eu.

— Com mil diabos, Martinho!.. então não te explicarás?.. que maldito jogo é esse?...

— Ora adivinhem lá... Não são capazes. E’ uma bisca de estrondo. Se adivinharem, dou-lhes