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vira, não se assuste assim. Aqui estou eu a seu lado, e ai daquelle, que ousar ultrajar-nos!

— Ninguem quer ultrajal-os, senhor Alvaro; — replicou o Martinho; mas o negocio é mais serio do que o senhor pensa.

— Emfim, senhor Martinho, deixe-se de rodeios e diga-nos aqui mesmo o que quer com esta senhora.

— Posso dizel-o; mas seria melhor que Vª. Sª. o ignorasse.

— Oh! temos mysterio!... pois nesse caso declaro-lhe, que não abandonarei esta senhora um só instante, e se o senhor não quer dizer ao que veio, póde retirar-se.

— Nessa não caio eu, que não hei-de perder o meo tempo, e o meo trabalho, e nem os meos cinco contos. — Estas ultimas palavras resmungou-as elle entre os dentes.

— Senhor Martinho, por favor queira não abusar mais da minha paciencia. Se não quer dizer ao que veio, ponha-se já longe da minha presença....

— Oh! senhor! — retorquio Martinho, sem se perturbar; — já que a isso me força, pouco me custa fazer-lhe a vontade, e com bastante pezar tenho de declarar-lhe, que essa senhora a quem dá o braço, é uma escrava fugida!...

Alvaro, se bem que conhecesse a vilania e impudencia do caracter de Martinho, no primeiro