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e devo sem remedio morrer entre as mãos de meo algôz...

— Nunca, Isaura! — exclamou Alvaro com exaltação; — minha fortuna, minha tranquillidade, minha vida, tudo sacrificarei para libertar-te do jugo desse vil tyrano. Se a justiça da terra não me auxilia nesta nobre e generosa empreza, a justiça do céo se fará cumprir por minhas mãos.

— Oh! senhor Alvaro!... não vá sacrificar-se por uma pobre escrava, que não merece taes excessos. Abandone-me á minha sina fatal; já não é pouca felicidade para mim ter merecido o amor de um cavalheiro tão nobre e tão amavel, como o senhor; esta lembrança me servirá de alento e consolação em minha desgraça. Não posso porém consentir, que o senhor avilte o seo nome e a sua reputação, amando com tal extremo a uma escrava.

— Por piedade, Isaura, não me martyrizes mais com essa maldita palavra, que constantemente tens nos labios. Escrava tu!.. não o és, nunca o foste, e nunca o serás. Pode acaso a tyrania de um homem ou da sociedade inteira transformar em um ente vil, e votar á escravidão aquella que das mãos de Deos sahio um anjo digno do respeito e adoração de todos? Não, Isaura; eu saberei erguer-te ao nobre e honroso lugar a que o céo te destinou, e conto com a