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espanando os moveis daquelle rico salão, testemunha impassivel dos mysterios da familia, de tantas scenas ora tocantes e enlevadoras, ora vergonhosas e sinistras, e que durante a ausencia de Malvina se conservára sempre fechado.

Qual é porém a sorte de Isaura e de Miguel, desde que deixárão Pernambuco? que destino deo Leoncio ou pretende dar áquella?.. por que maneira se reconciliou com sua mulher?

Eis o que passamos a explicar ao leitor, antes de proseguirmos nesta narrativa.

Leoncio tendo trazido Isaura para sua fazenda, a conservara na mais completa e rigorosa reclusão. Não era isto só com o fim de castigal-a ou de cevar sua feroz vingança sobre a infeliz captiva. Sabia quanto era ardente e capaz de extremos, o amor que o jovem pernambucano concebera por Isaura; tinha ouvido as ultimas palavras que Alvaro lhe dirigira = confia em Deos, e em meo amor; eu não te abandonarei. — Era uma ameaça, e Alvaro, rico e audacioso como era, dispunha de grandes meios para pôl-a em execução, quer por alguma violencia, quer por meio de astucias e insidias. Leoncio portanto não só encarcerava com todo o rigor a sua escrava, como tambem armou todos os seos escravos, que dahi em diante distrahidos quasi completamente dos trabalhos da lavoura, vivião em alerta dia e noite como soldados de guarnição a uma fortaleza.