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A ESCRAVA ISAURA

— E’ debalde, que o senhor se finge sorprehendido; bem sabe a causa do meo desgosto. Eu já devia ter presentido esse seo vergonhoso procedimento; ha muito que o senhor não é o mesmo para commigo, e me trata com tal frieza e indifferença...

— Oh! meo coração, pois querias que durasse eternamente a lua de mel?... isso seria horrivelmente monotono e prosaico.

— Ainda escarneces, infame! — bradou a moça, e desta vez as faces se lhe afogueárão de extraordinario rubor, e fuzilárão-lhe nos olhos lampejos de colera terrivel.

— Oh! não te exasperes assim, Malvina; estou gracejando, — disse Leoncio procurando tomar-lhe a mão.

— Boa occasião para gracejos!... deixe-me, senhor!... que infamia!... que vergonha para nós ambos?...

— Mas emfim não te explicarás?

— Não tenho que explicar; o senhor bem me entende. Só tenho que exigir...

— Pois exige, Malvina.

— Dê um destino qualquer a essa escrava, a cujos pés o senhor costuma vilmente prostrar-se: liberte-a, venda-a, faça o que quizer. Ou eu ou ella havemos de abandonar para sempre esta casa; e isto hoje mesmo. Escolha entre nos.

— Hoje!?