— Por que está-me parecendo, que ella vae ter a mesma sina da mãe...

— E o que mais merece aquella impostora? — murmurou a invejosa e malevola Rosa. — Pensa, que por estar servindo na sala é melhor do que as outras, e não faz caso de ninguem. Deo agora em namorar os moços brancos, e como o pae diz que ha-de forrar ella, pensa que e uma grande senhora. Pobre do senhor Miguel!.. não tem onde cahir morto, e ha-de ter para forrar a filha!

— Que má lingua é esta Rosa! — murmurou enfadada a velha creoula, relanceando um olhar de reprehensão sobre a mulata. — Que mal te fêz a pobre Isaura, aquella pomba sem fel, que com ser o que é, bonita e civilisada como qualquer moça branca, não é capaz de fazer pouco caso de ninguem?.. Se você se pilhasse no lugar della, pachóla e attrevida como és, havias de ser mil vezes peór.

Rosa mordeo os beiços de despeito, e ia responder com todo o atrevimento e desgarre, que lhe era proprio, quando uma voz áspera e atroadora, que partindo da porta do salão retumbou por todo elle, veio pôr termo á conversação das fiandeiras.

— Silencio! — bradava aquella voz. — Arre! que tagarelice!.. parece que aqui só se trabalha de lingua!..