V


Resposta a alguns raciocinios dos escravagistas

     Si estas reflexães lograrem obter a approvação dos espiritos rectos, das almas sãas, o author ficará sobre modo recompensado, Porém, não póde elle dar por finda a sua tarefa antes de responder a alguns raciocinios, tanto mais apropriados a seduzir os que não reflectem, qnanto apparentam esse ar de sinceridade e de humanidade, que tornouse tão á moda, por que açhou-se muito commodo dizer que o mal não esta na natureza para ficar-se dispensado de combattel-o ou corrigil-o.

     Antes de tudo — dizem — os negros escravos não são tão maltratados como o pretendem nossos declamadores philosophos; a perda da liberdade em nada os prejudica, e, na realidade, são mais felizes do que os camponezes livres da Europa. Demais, interessados como são os senhores de escravos em conserval-os, devem poupal-os pelo menos como poupamos nossos animaes de trabalho.

     De todas estas quatro allegações, nem uma é verdadeira. Os escravos são muito mais maltratados do que se suppõe na Europa; e julgo-o, não pelos livros que os senhores publicam, mas pelas confissões que lhes escapam, e ainda pelo testemunho de homens respeitaveis a que tal espectaculo tem causado horror.