I

O Rio de Janeiro ardia sob o sol de dezembro, que escaldava as pedras, bafejando um ar de fornalha na atmosphera. Toda a rua de S. Bento, atravancada por vehiculos pesadões e estrepitosos, cheirava a café cru. Era hora de trabalho.

Entre o fragor das ferragens sacudidas, o gyro ameaçador das rodas e os corcovos de animaes contidos por mãos brutas, o povo negrejava suando, compacto e esbaforido.

A' porta do armazém de Francisco Theodoro era nesse dia grande o movimento. Um carroceiro, em pé dentro do caminhão, onde ageitava as saccas, gritava zangado, voltando-se para o fundo negro da casa:

— Andem com isso, que ás onze horas tenho de estar nas Docas!

E os carregadores vinham, succedendo-se