— Como se chamam os seus deuses?
— Camões, Dante, Shakespeare... Nunca adormeço sem ter lido algum poeta, e de alguns recito mentalmente versos divinos. E a razão por que me explico ter tão belos sonhos, visto que este feio homem que aqui esta, excelentíssima, tem sonhos que perfumariam a existência da mais formosa das mulheres. Ontem li Dante. Estive no inferno, D. Joana, e que inferno belíssimo!
— Vá trazendo para cá essas idéias...
— Descanse; esta religião não se ensina; é para os iniciados. A senhora já ouviu falar em Byron?
— Algum inimigo da nossa Igreja, como o senhor?
— Mas eu não quero mal à sua Igreja! acho-a só muito triste, toda voltada para a morte... Não lhe quero mal, porque para sua glorificação ela tem criado catedrais que são verdadeiras apoteoses da arte.
— Só por isso?
— É uma das razões, e a única fácil de explicar-lhe.
— Julga-me muito bronca.
— Ao contrário, estou-lhe falando como a um literato! Agora, se quer, discutamos religião e filosofia. Conhece Comte?