A Carlotinha, sempre trêfega, debruçava-se sobre o colo da mãe, dizendo-lhe com a sua voz maliciosa frases em que entrava mais atrevimento do que espírito. Tinham-se mudado para as Laranjeiras e ofereciam-lhe a casa. D. Inácia vinha espantada com os preços dos objetos adquiridos; se não fossem as moças, ela não viria à cidade; gostava do seu canto, da boa paz caseira.

— E o sr. Gomes, como está? perguntou o capitão, menos por interesse do que para dizer alguma coisa.

— Coitado, como velho cheio de trabalho. O sr. não imagina! meu marido sacrifica-se pelos outros e o resultado nós sabemos qual é. Este mundo é de ingratos...

— Sim, é de ingratos; confirmou o capitão.

Até as Laranjeiras D. Inácia teve tempo de despejar todas as lamentações da sua alma atribulada; falou de tudo, até das cozinheiras e do mau serviço do açougue. O discurso, interminável, numa lenga-lenga, ora lamurienta, ora resignada, tornava ao capitão insuportável a lonjura da viagem.

Carlotinha perguntou pelo dr. Gervásio. Que era feito dele, que ninguém o via, senão no palacete Teodoro?