de santos e sentou-se a seu lado. Tia Joana não se fez de rogada.
As mesmas palavras que na alegria da sua casa risonha lhe enfeitiçavam a imaginação, arrepiavam agora Ruth, naquela meia sombra, num ambiente tão diverso do que lhe era habitual.
Os cilícios, as caldeiras fumegantes, as fráguas acesas do inferno, a nudez das virgens mártires, as cruzadas para a Terra Santa. lanças flechando o ar abrasado, exércitos comidos pela peste ou esmagando judeus, os grandes votos solenes, os ritos cruéis, as perseguições injustas, os gritos de misericórdia, todas as agonias e todos os êxtases, que a velha relatava, para a vitória da Fé cristã, assombravam Ruth, que toda se cosia à tia, olhando desconfiada para a vastidão sombria do aposento mudo.
Na parede do fundo, o bruxolear da luz fraca parecia desenhar formas indecisas de animais fantásticos; seriam talvez os porcos babosos das lendas satânicas, os dragões framíferos, ou os magros cães de focinho erguido a uivar...
— Tia Joana, tia Joana
— Que é isso, minha filha?
— Eu estou com medo... conte outra história mais suave...