sabia, e logo depois de uma meia dúzia de palavras:
— Ontem houve um baile em casa de seu Teodoro. Diz que a rua estava cheia de carros. Só o vestido da D. Camila custou dez contos...
— Quem acredita nisso...
— O Mário vai casar-se com uma moça que tem para cima de mil contos. Foi ao baile coberta de jóias. Seu Guimarães, seu Castro, todos estes turunas do café foram lá.
— Como sabe você de tanta coisa?
— Foi o Isidoro quem me contou.
O Ribas, com os ombros descaídos e um sorriso nos lábios moles, falava em suntuosidades, com a voz empapada em saliva.
O velho tossiu, fingiu querer dormir, negando confiança ao rapaz, sentindo-o abusivo. Vendo que o outro o não entendia, exclamou:
— Você não tem que fazer?
— Eu ainda não achei emprego...
— Veja lá, eu não quero que seu cunhado pense que o retenho em minha casa.
— Meu cunhado não me governa.
Seu Mota despediu o Ribas, mas logo que o viu descer a escada sentiu-lhe a falta. Ao menos aquilo era alguém, sempre trazia um eco de vida, um zum-zum de fora.