— É impossível! murmurou ela por fim com uma voz de sonâmbula.
— Impossível por que? a quanta gente tem acontecido o mesmo? Vocês mulheres não entendem destas coisas. Só conhecem a vida pela superfície, por isso é que têm surpresas com fatos naturalíssimos. Hoje a falência é de Teodoro, amanhã será de e depois de outro... A série há de ser longa.
— Que me importam os outros!
— Importa como explicação: é uma conseqüência do tempo. Mas senta-te, estás muito fria... queres uma capa?
— Não quero nada. E, como ele quisesse retê-la, ela desprendeu-se-lhe bruscamente dos braços.
— Descansa...
— Não posso.
Gervásio calou-se, à espera: ela começou a andar com passadas irregulares, como se buscasse uma coisa, uma palavra, uma idéia. A vida, há pouco suspensa, voltava agora com ímpeto. A reação escaldava-lhe o corpo. Ela ia falando, estraçalhando frases:
— Que horror! como havemos de aparecer diante de toda esta gente... Que insensatez, naquela idade! deixar-se falir! não compreendo! Que vergonha, que vergonha!