em cujas arestas lhes ficassem o sangue e a carne.
Via já a outra como uma inimiga. Fora ela quem lhe tirara o filho para a irmã; era ela quem lhe tirava as filhas para si. O pretexto humilhava-a, achava-se indigna por não ter tido forças de defender as crianças, arrancadas de casa pela pressão da necessidade. Olhou para as mãos: eram bonitas, mas não sabiam fazer nada. Camila escondeu-as depressa, arrepiada, nas dobras do casaco.
E o conselho do filho não a deixava, numa fixidez alucinadora. Sim, só Gervásio poderia salvá-la, se quisesse dizer primeiro a palavra que ela não tinha coragem de pronunciar.
Camila fechava os olhos, tapava os ouvidos e sempre, continuamente, entre o seu orgulho de mulher e os seus extremos de mãe, badalavam as palavras do filho:
— Case-se, case-se, case-se!
E ele tinha razão; só assim ela tornaria a ter um lar onde aninhasse as filhas; cessariam os sacrifícios de Nina e de Ruth, a Noca trabalharia só para si, e o Mário...
O ressentimento que lhe ficara daquele filho, que viera de longe para lhe amargurar, avolumou-lhe as lágrimas que chorava.