Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/100

rosa mitigava os ardores do sol suspenso sobre o oceano nas orlas do horizonte. Regina estava sozinha à beira-mar, sentada sobre uma lasca de rochedo, com a face encostada a uma das mãos, e olhando ao longe pelos vastos mares. Os cabelos soltos choviam-lhe caracolando pelas alvas espáduas, que os raios do sol iluminavam com reflexos de âmbar e rosa. A boca entreaberta conservava uma expressão entre risonha e melancólica, e os lábios vermelhos como bagas de romã agitavam-se levemente como que murmurando palavras misteriosas.

Os pés e as pernas encruzadas lhe apareciam até o meio da tíbia sob a túnica ligeiramente arregaçada, semelhando nítidas colunas de primoroso lavor cambiando à luz do sol as cores do nácar e do lírio. Amarrado à praia, o barquinho, único e inseparável companheiro seu, dormia arfando indolentemente à mercê da ressaca, como o cão fiel ressonando aos pés de seu dono.

Evidentemente ela cismava; em quê, ninguém saberia dizê-lo. Amores…? Nunca os tivera. Saudades…! De quê, se ela não tinha pai nem mãe, pátria nem família…?

Embebia-se porventura em sonhos ideais, em místicas e celestes aspirações…? ou elaborava no crânio maldito maquinações infernais para perder as almas incautas e juvenis…? Podia ser