Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/115

novo o remo, e virando de bordo, outra vez demandou o largo. À medida que se afastava, o tênue vapor alvirróseo, que a circundava, foi rapidamente se condensando e avolumando, e em breve se converteu em vasto e pavoroso negrume, que se estendeu por toda face do oceano. As ondas até ali tão plácidas e bonançosas começaram a empolar-se em desmesurados vagalhões, no meio dos quais o frágil batel da donzela doudejava às tontas em boleos desencontrados. Transido de pavor, Ricardo queria gritar, mas o peito comprimido mal podia soltar uns sons cavos e abafados; tentava arrojar-se ao pego e atirar-se nadando em seu socorro, mas seus braços estavam inertes e paralisados, seus pés não podiam arrancar-se do solo em que se achavam. Um trovão horrendo abalou as esferas, um raio rasgou as nuvens, e dois enormes vagalhões coloridos de fogo e sangue, ruindo um contra o outro, iam quebrar-se sobre o mísero barco da donzela…

Ricardo acordou, enfim, arquejando entre as ânsias de afrontoso pesadelo. Abriu os olhos: que viu…? Uma formosíssima donzela, de rosto e porte em tudo semelhante a de seu sonho, achava-se em pé diante dele, e o contemplava com um meigo e afetuoso sorriso.